O Natal é o nascimento de Jesus Cristo no Presépio de Belém acontecido há dois mil anos. Um nascimento datado e situado com coordenadas históricas bem definidas, pois deu-se quando César Augusto era imperador Romano e a Província Romana da Síria, a que pertencia a Palestina então, era governada por Quirino (Lucas 2, 1-2).
A festa de Natal celebra, portanto, este acontecimento e a sua decisiva importância de Salvação para toda a Humanidade, marcando o centro da História que, por isso, passou a ficar dividida entre o antes e o depois do nascimento de Cristo.
O Natal convida-nos hoje, de novo e antes de mais, a parar diante do Presépio, que é a Sua representação mais real e mais fiel.
E diante do Presépio nós contemplamos uma lição de vida, uma lição de amor e uma lição de paz.
O Presépio diz-nos antes de mais o que é a vida, plasmada na simplicidade daquela criança, o Menino Jesus. A vida que nasce pequenina, frágil, com necessidade absoluta de ser generosamente acolhida e protegida, mesmo quando parece complicar planos particulares da mãe ou do pai ou de outras pessoas ou mesmo de sociedade como tal. Também para os pais desta criança do Presépio de Belém não foi fácil fazer uma viagem longa, com a mãe prestes a dar à luz e depois com o grave incómodo de terem de procurar um curral de animais para pernoitar e nele uma manjedoira para reclinar o seu Filho recém-nascido. Isto porque para eles não houve lugar nas casas e hospedarias da cidade.
Toda a vida que começa, como a deste menino de Belém, já desde o seio materno, é um mistério de maravilha.
Neste Menino, frágil como todas as crianças, pobre entre os pobres, nós contemplamos o Salvador do Mundo. Também em cada criança, sejam quais forem as circunstâncias em que o seu percurso se iniciou, nós queremos ver sempre o sorriso de Deus e a Sua bênção para toda a Humanidade, mesmo que haja dificuldades e contra-tempos a superar, como aqueles que corajosamente souberam enfrentar José e Maria na cidade de Belém.
O Presépio é também uma lição de amor. Amor de uma família que se alegra com o nascimento do seu Filho e tudo faz para o receber bem, criando-lhe todas as condições necessários para que Ele possa viver e crescer e assim cumprir a sua vocação e missão no mundo.
Amor de uma Mãe que fica feliz com a chegada do Filho e de um Pai que deseja cumprir as suas responsabilidades sociais, neste caso o recenseamento mas sem descurar as responsabilidades para com a Família
Amor do próprio Deus voluntariamente feito criança pobre e humilde, despojado de toda a Sua grandeza e riqueza para ajudar a que todos a começar pelos pobres e mais fracos, possam percorrer, com dignidade, os caminhos da sua realização pessoal.
O presépio ensina-nos também o que é a Paz, e como é que ela se constrói. A paz só é verdadeira quando centrada na pessoa, na defesa e na promoção dos seus direitos e da sua dignidade, em todas as suas circunstâncias.
É por isso que a Paz nunca pode ser o resultado de um equilíbrio de forças e muito menos da imposição da lei do mais forte.
O primeiro dia do ano que se aproxima volta a ser o Dia Mundial da Paz, desta vez com o seguinte tema proposto pelo Papa Bento XVI: “A Pessoa Humana no coração da Paz”.
De facto só o respeito sagrado por todas e cada uma das pessoas, qualquer que seja a sua situação ou estado de desenvolvimento, desde a concepção à morte natural, pode garantir a paz e dar futuro à Humanidade.
Desejo a todos Santo Natal, na contemplação do Presépio de Belém, com a sua lição de Vida, de Amor e de Paz.
Guarda, 18 de Dezembro de 2006
+ Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
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