No meio de tanta agitação e do aproveitamento comercial que se faz do natal, ainda haverá espaço e tempo, desejo e interesse, disponibilidade interior para procurar, encontrar e acolher o Menino?
Não será que o Natal interessa apenas pelo negócio que se faz, pelas prendas que se dão ou recebem, pelo encontro familiar (este cada vez mais relativizado e esvaído do seu genuíno significado), pelas diversões que se proporcionam e pelas ilusões que se criam?
Quem é que ainda considera Jesus como a razão de ser e a grande prenda do Natal?
Quantas coisas e tantas solicitações, apresentadas e sugeridas a pretexto do Natal, que anestesiam a dimen-são espiritual do homem e o desviam do verdadeiro espírito do Natal!
Quantas coisas, a pretexto do Natal, fazem esquecer Jesus!
Quem consegue abstrair-se de tudo isso, ainda que seja por breves momentos, para contemplar o Menino e, assim, captar a luz da sua vida, da sua verdade e do seu amor?
O Natal sem Jesus e de quem desistiu de Deus,
o Natal das prendas e da sociedade de consumo,
o Natal de quem perdeu a capacidade de sonhar e deixou de acreditar no futuro, cria uma felicidade efémera e ilusória.
É uma felicidade construída sobre a areia, sem consistência. Uma felicidade que tem como motivação o comodismo e como horizontes a mediocridade!
Uma felicidade que, por isso mesmo, não satisfaz as reais aspirações do homem.
Pior ainda, uma felicidade que, com facilidade e frequentemente, degenera em pessimismo ou mesmo em autodestruição da pessoa humana.
“Encontrareis um Menino”.
Nós ainda conseguimos arranjar tempo, pelo menos neste dia, para encontrar o Menino, ou melhor, para nos encontrarmos com Ele. Nós sabemos que Ele já não se encontra na gruta de Belém, mas sabemos e acreditamos que continua vivo e actuante na sua Igreja.
Esta nossa celebração de Natal é encontro com Jesus, com o mesmo Jesus que nasceu na gruta de Belém. Só na medida em que é encontro com Ele, ela é celebração do Natal de Jesus. Na verdade, Jesus: está presente no meio de nós uma vez que estamos reunidos em seu nome; fala-nos através do Evangelho, que continua a ser, para aqueles que o escutam, Palavra de salvação; oferece-se a nós no Pão da Eucaristia, que continua a ser, para aqueles que o recebem, Pão de vida eterna.
O encontro com Jesus, neste dia mas sobretudo ao longo do ano, server para: captarmos a riqueza da sua vida e o alcance da sua missão; podermos experimentar a alegria do seu nascimento, o dinamismo do seu amor, o sentido da sua verdade; saborearmos como é bom estar com Ele e tê-lo em nós, não pode limitar-se ao encontro do dia de Natal. É indispensável que aconteça todos os dias.
Assim, acolhendo Jesus, deixando-o nascer e viver em nós, ajudaremos outros a encontrá-lo e a maravilharem-se com Ele. E quantos mais formos os que acreditamos em Jesus e O seguimos mais o nosso será um mundo de verdade e de amor, de justiça e de paz, um mundo de homens e mulheres felizes.
“Encontrareis um Menino … deitado numa manjedoura”.
Jesus, no mistério do seu nascimento, manifesta-se, não no esplendor da sua divindade (como pareceria mais lógico aos homens) mas na humildade da natureza humana, porque assim pareceu mais lógico a Deus! Na verdade, Jesus seguiu este caminho, porque veio não tanto para mostrar que Deus tem muito poder, mas, antes, para mostrar que Deus ama muito os homens!