No passado Domingo, 12 de Julho, as freguesias que constituem a unidade pastoral de Celorico da Beira fizeram, no pavilhão do mercado, o pleno do concelho e do arciprestado: se mais cristãos houvera lá estariam!
Que estranho acontecimento concitava tamanha multidão no mercado de Celorico? Nada menos que a Missa solene do recém-ordenado sacerdote P. Hugo Alexandre Martins. Horas antes, o corropio era enorme para o local da cerimónia, com G.N.R. tolerante para carros estacionados em qualquer parte, longa e bela passadeira de flores entre a capela do Calvário e o pavilhão. A cruz alçada, seguida de bandeiras e do cortejo presbiteral que incorporava o neo-presbítero encabeçava a procissão, calcando desenhos de flores e de verdura. Cantava-se “Bendito o que vem em nome do Senhor” e, já na entrada do mercado, a antífona da Missa solene: “À sombra das vossa asas me refugio, Senhor!” E sombra era o que mais se procurava, no braseiro que era já o pavilhão, a ferver de cristãos cantantes. Quantos mil estariam ali? A lusalite do mercado, forrada de panos brancos, amarelos e azuis, não deixava que o sol da tarde quentíssima nos queimasse a pele, mas o aperto dos corpos suados e o entusiasmo da multidão em festa faziam aumentar constantemente o calor: calor de corpos, calor de almas!
Com a solenidade que a liturgia prescreve, presbíteros subiram ao grande estrado: ali fora plantado o altar onde P. Hugo ia celebrar a sua Missa solene, juntamente com o P. Celso, que em Celorico fizera estágio pastoral, e com os numerosos sacerdotes concelebrantes. Já o incenso se queimava no turíbulo, para a incensação, já a água lustral se derramava sobre os fiéis radiosos, para a aspersão.
Glória a Deus nas alturas, cantou o P. Hugo. O coro prosseguia o hino ambrosiano; a multidão secundava: glória a Deus nas alturas! Familiares do P. Hugo vieram ao ambão fazer as leituras; um diácono permanente leu o Evangelho. Antes, o coro cantara vibrante aleluia que secundou, terminada a proclamação. P. Hugo, visivelmente emocionado, fez, sentado, a sua homilia.
O ofertório foi soleníssimo; veio lá do fundo do pavilhão o cortejo: gentilezas, muitas, para o neo-presbítero; os pais do Hugo traziam a patena e o cálice. E a Eucaristia lá foi prosseguindo, com o coro, sempre animado, a cantar “A messe é grande” e “Santo, santo, santo”. O rito da paz, proclamado pela voz do diácono permanente, traduziu-se em abraços sentidos entre uma assembleia reunida num só coração e numa só alma. P. Hugo desceu do altar para o afecto partilhado com pai e mãe e irmãos. O “Cordeiro de Deus” pôs termo aos abraços.
A comunhão foi, depois, um dos momentos mais altos desta Eucaristia. Felizmente tudo foi previsto: mobilizaram-se sacerdotes, diáconos, ministros extraordinários; familiares e ministros do altar comungaram sob as duas espécies. O coro cantava o refrão litúrgico: “As aves do Céu procuram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhinhos... Junto dos vossos altares também eu me aninho, meu Deus e meu Rei, Senhor meu amigo!” Dentro em pouco, já todo o povo metia a garganta na melodia fácil: “Meu Deus e meu Rei, Senhor meu amigo!”
A Eucaristia aproximava-se do termo, mas ainda estávamos para viver alguns dos momentos mais altos desta liturgia. P. José Manuel Martins, pároco de Celorico, anunciou, do ambão, que tinha estado de folga, neste Domingo, porque, em vez de ir aos povos celebrar a Eucaristia, foram os povos que vieram aqui participar nesta celebração. Revelou, depois, as suas surpresas. P. Martins prepara as coisas de longe. Pensou, e bem, que a ordenação de um filho da terra era uma ocasião propícia para aprofundar o ministério sacerdotal. Mobilizou as catequeses do arciprestado: crianças e catequistas foram reflectindo e exprimindo, à sua maneira, o que era para eles o sacerdote. Escreveram testemunhos; desenharam imagens. Tudo coligido e encadernado em duas belas pastas, padre Martins ofereceu-as aos Padres Hugo e Celso. Querendo dar também algo pessoal, P. Martins começou em Maio a preparar-se para a ordenação deste dois padres, Hugo e Celso, com meditações sobre a vocação e o ministério sacerdotais. Reuniu em dois pequenos volumes as suas reflexões e ofereceu-as, com grande aclamação da assembleia, aos dois neo-sacerdotes. Foram a sua prenda. O coro rompeu a cantar o lema do P. Hugo: “Alegrai-vos sempre no Senhor!” .
P. Celso, que, há oito dias, celebrara no Barco a sua Missa Solene e agora concelebrava a-par do P. Hugo, sentiu bem como tem sido apreciada a sua acção pastoral em Celorico; recebeu igualmente prendas e muitas palmas. Seguiu-se o beija-mão e P. Hugo e P. Celso aceitaram, comovidos, o testemunho do carinho de toda esta grande igreja arciprestal.
Seguiu-se um lanche-convívio que decorreu com grande animação e verdadeiro sentido eclesial.
Seguiu-se um lanche-convívio que decorreu com grande animação e verdadeiro sentido eclesial.