Uma exigência da realidade
Tendo presente, por um lado, o que é a paróquia, a missão da Igreja que nela se deve concretizar e os diferentes serviços e ministérios que essa missão pressupõe, e, por outro lado, olhando para a realidade das paróquias que temos, concluímos que a maior parte destas paróquias não preenchem os requisitos eclesiais para continuarem a ser consideradas e tratadas como tal.
Na verdade, em muitas das actuais paróquias, não existem alunos nem catequistas para se poder organizar e garantir a catequese de um modo minimamente adequado e eficaz. Ao nível da liturgia, também não garantem os respectivos ministérios. E o mesmo se pode dizer em relação aos serviços da caridade. E ainda a falta de vocações de consagração. Ora, sem vocações não é possível realizar a missão da Igreja!
Tudo isto mostra e prova que estas paróquias não são verdadeiras “comunidades de fé e de ministérios”, ou seja, não são paróquias de verdade.
O que são e como funcionam.
Que resposta dar a esta situação? Como solução possível, fala-se da criação de novas unidades pastorais. E algo já está a ser feito nessa linha.
As unidades pastorais poderão resultar do conjunto de paróquias confiadas a um ou vários sacerdotes. Nalguns casos, poderão ser formadas por todo um arciprestado.
Sem que se altere, para já, o seu estatuto jurídico, estas paróquias, a nível pastoral, passarão a ser olhadas e tratadas como um todo.
Haverá um programa conjunto de acção pastoral e de vida cristã, elaborado na base da realidade das comunidades e dos agentes pastorais disponíveis nas mesmas.
Estes agentes pastorais (sacerdotes, consagrados e leigos) trabalharão, não em função das comunidades a que pertencem ou pelas quais são mais directamente responsáveis, mas em função do todo da unidade pastoral. Deste modo, aproveitar-se-ão melhor as capacidades e os carismas de cada um ao serviço de todos.
A programação, a responsabilidade pela sua execução e a subsequente avaliação caberá a uma equipa pastoral ( ou conselho pastoral). Esta terá como coordenador um sacerdote e integrará representantes dos consagrados, se os houver, e dos leigos das diferentes comunidades.
As unidades pastorais, na medida em que o forem, assegurarão a unidade de critérios pastorais em todas as comunidades cristãs que a compõem. Assim, em todas se seguirão as mesmas normas e práticas no que diz respeito à preparação dos sacramentos, aos padrinhos de baptismo, à celebração das festas, aos emolumentos pelos serviços prestados ...
Como já referimos, estas unidades pastorais, na medida em que são orientadas e animadas por um trabalho em equipa, garantem um melhor aproveitamento dos diferentes agentes pastorais. Cada um, segundo os dons recebidos e as capacidades desenvolvidas, pode dar o melhor de si mesmo em prol das várias comunidades.
Nesta linha, poderão ser distribuídas responsabilidades segundo os diversos sectores da pastoral: catequese de crianças, de jovens e de adultos, liturgia e preparação para os sacramentos, casais e família, serviços sócio-caritativos.
As unidades pastorais não vêm eliminar, sem mais, a vida cristã nas comunidades cristãs mais pequenas. Estas continuarão a ter, ainda que, muitas vezes, a um outro ritmo e com outra intensidade, a celebração dos sacramentos, as suas devoções próprias e algumas acções de formação e outros serviços.
No entanto há muitas coisas que, a nível da tríplice missão da Igreja, podem e devem ser realizadas em comum. As unidades pastorais não só pressupõem uma programação conjunta e unidade de critérios, como também reclamam que haja uma actuação conjunta.
Em concreto:
a) A nível da catequese, como já aludimos, muitas paróquias, por falta de alunos e de catequistas, já não a podem garantir. Afigura-se, pois, como urgente caminhar, conforme os casos e as possibilidades, para a criação de núcleos ou mesmo de um único centro de catequese, que sirvam algumas ou todas as comunidades da unidade pastoral. Deste modo, será mais fácil formar verdadeiros grupos de catequese e providenciar catequistas mais bem preparados para os mesmos.
b) As reuniões e a formação dos catequistas podem ser feitas em conjunto. O mesmo se diga em relação aos coros e equipas litúrgicas, bem como a outros grupos ou movimentos existentes no âmbito da unidade pastoral.
Procedendo assim, não só poupa no trabalho e no tempo quem deve orientar estas acções, como se torna mais atractivo e enriquecedor para os participantes.
c) A preparação para os sacramentos, muito concretamente para o matrimónio (os noivos) e para o baptismo (pais e padrinhos). E aqui valem as mesmas razões da alínea anterior.
d) Também ao nível dos sacramentos pode haver celebrações conjuntas para toda a unidade pastoral. Isso parece ser bastante óbvio quanto ao sacramento da Confirmação e, embora menos, em relação ao Baptismo. Na prática, já está a acontecer, com alguma frequência, a celebração conjunta do sacramento da confirmação para várias paróquias ou mesmo para todo um arciprestado.
e) Também parece lógico e mais fácil organizar os serviços da caridade a nível das unidades pastorais. Diremos mesmo que, de outro modo, não será possível pô-los a funcionar. Isto não impede, bem pelo contrário, que em cada comunidade haja alguém atento e responsável pelo que aí se passa. O conhecimento e a actuação directa são indispensáveis, para que os organismos possam cumprir bem a sua missão.
f) Uma palavra especial sobre a celebração da Eucaristia dominical. Nas presentes circunstâncias, não é possível nem se justifica celebrar a Eucaristia todos os domingos em todas as comunidades, mesmo nas sedes de paróquia.
Não é possível, porque não há sacerdotes suficientes para que tal aconteça. Convém lembrar que os sacerdotes não podem celebrar a Eucaristia quantas vezes querem ou lhe pedem. O máximo, e é com um licença especial, o sacerdote pode celebrar quatro vezes a Eucaristia no Domingo.
Ora, um sacerdote que tem seis ou mais paróquias não pode celebrar em todas todos os domingos.
Não se justifica a celebração da Eucaristia todos os domingos, em comunidades com um reduzido número de pessoas e que facilmente se podem deslocar a outra comunidade, ou em comunidades que estão muito próximas ( por vezes, a menos de 1Km!).
Parece lógico que, em tais situações, haja a celebração rotativa ou alternada nessas comunidades. Não seria justo que fossem sempre as mesmas comunidades a ficar privas da celebração da Eucaristia dominical!
Quem tem fé viva e tem meios (saúde ou transporte) não deixará de se deslocar a outra comunidade para celebrar o Domingo, participando aí na Eucaristia. Quando falta a fé, não há razões que consigam vencer o comodismo e o bairrismo das pessoas!
A Igreja não esquece os idosos, os doentes e todos aqueles que, por algum motivo razoável, não podem deslocar-se. Para esses, no domingo em que não há celebração da Eucaristia, providencia-se, como já acontece largamente, a Celebração da Palavra, ou melhor, a Celebração do Domingo na ausência do presbítero, a que já aludimos antes.
Nesta análise e reflexão, tivemos diante de nós a realidade das paróquias do mundo rural. No entanto, e como dissemos na introdução, as unidades pastorais devem também implementar-se nas áreas urbanas.
Nas cidades, as paróquias estão coladas umas às outras. Aí, as fronteiras geográficas não são visíveis, mas a separação entre as comunidades é, por vezes, muito acentuada.
Apesar da proximidade, cada paróquia, como um mundo fechado e autónomo, procura garantir tudo aos seus fiéis, ao nível do ensino, da liturgia e da caridade, preocupando-se exclusivamente com eles. E, o pior ainda, com disparidade de critérios pastorais.
É evidente e censurável “o desperdício” dos recursos humanos e dos serviços prestados, que poderiam abranger e beneficiar muitas mais pessoas!
Também nas cidades, as unidades pastorais garantirão um melhor aproveitamento dos agentes, a necessária unidade de critérios e, consequentemente, uma maior eficácia.
Vantagens das unidades pastorais
a) Um mesmo programa, a mesma orientação e os mesmos critérios tornam possível uma acção pastoral mais concertada e mais credível.
Quando se seguem critérios diferentes em paróquias vizinhas, os fiéis ficam confusos e na dúvida sobre quem tem ou não tem razão. E há sempre a tentação, sobretudo entre os cristãos menos esclarecidos e comprometidos, de dar a razão aos que “facilitam as coisas”. E isto dificulta a vida e a acção pastoral daqueles que procuram seguir as orientações e aplicar as normas da Igreja.
Se existirem e funcionarem bem as unidades pastorais, estes perigos e dificuldades serão mais facilmente evitadas ou superadas.
b) Com menos agentes pastorais e com menos trabalho, pode-se fazer mais e melhor, atingindo mais pessoas. De facto, trabalhando em conjunto, reduz-se o número de reuniões, de acções de formação e de celebrações, porque não é necessário repetir o mesmo em todas as comunidades.
Além disso, é mais fácil encontrar pessoas disponíveis para os diversos serviços e ministérios. Sendo necessários menos, é possível escolher os melhores e prepará-los mais adequadamente. São precisos menos porque, como já dissemos, eles trabalharão em função do todo da unidade pastoral e não para que tudo continue na mesma em cada comunidade.
c) Ajuda a criar uma nova consciência de pertença à Igreja e promove uma mais alargada e consistente comunhão eclesial.
E uma comunidade mais alargada e mais viva, mais dinâmica e comprometida, que vive em sintonia e sente ao ritmo da Igreja, oferecerá um ambiente mais propício ao desabrochar das vocações de consagração e das vocações laicais.
Dificuldades e exigências
a) Este modelo pastoral implica trabalho em equipa. Os sacerdotes precisam de trabalhar (programar, organizar, executar e avaliar) em comum e em comunhão com os outros sacerdotes e com os leigos, ou seja, com aqueles que constituem a equipa pastoral.
Não parece fácil, mas é necessário e urgente, vencer o individualismo e a convicção errada de que o padre é o único senhor absoluto e absolutamente sozinho das paróquias que lhe estão confiadas.
O trabalho em equipa afigura-se, cada vez mais, como uma exigência do ministério sacerdotal. Este modo de trabalhar é facilitado, quando existe entre os sacerdotes algum tipo de vida em comum.
Ora, não havendo, entre os sacerdotes, grande sensibilidade para este modo de vida, compreende-se que também não seja fácil aquele modo de trabalhar.
É necessário formar e motivar os sacerdotes, de modo a que se opere a sua conversão a estes valores. A fidelidade à missão passa certamente por aqui!
b)Temos que contar também com a resistência de muitos cristãos.
Resistem aqueles cristãos para os quais a paróquia tem sido o único mundo da sua fé, isto é, aqueles que continuam a viver a sua fé exclusivamente no âmbito das suas respectivas comunidades.
O comodismo leva-os a querer tudo nas suas paróquias. O egoísmo torna-os indiferentes às necessidades e aos direitos dos outros. Um certo bairrismo ou mesmo alguma rivalidade entre terras vizinhas leva muitos cristãos a excluir a hipótese de participar em actividades pastorais ou celebrar a fé noutras comunidades.
Importa, pois, ajudar os cristãos a compreender e a integrar-se de um modo positivo e empenhado nas novas unidades pastorais.
Teoricamente, os cristãos sabem que, pela fé e pelo baptismo, pertencem à mesma família de Deus, que é a Igreja. Na prática, impõe-se que tomem consciência disso e assumam as respectivas exigências e consequências.
Não podemos ser cristãos e não viver em comunhão com todos quantos fazem parte desta família de Deus. E esta comunhão deve traduzir-se em actos concretos, sobretudo com aqueles cristãos e aquelas comunidades que se encontram e vivem mais perto de nós.
Mais, ser cristão católico implica ter um coração universal, capaz de acolher todas as pessoas, muito mais os irmãos na fé, vencendo fronteiras e preconceitos.
Não representa qualquer tipo de desprestígio, como alguns erradamente pensam e sentem, deslocar-se a outra comunidade. Mau sinal, isso sim, é não ter fé suficiente para o fazer de boa vontade e com alegria.
Muitos cristãos continuam a olhar para o seu pároco e a fazer-lhe exigências como se este não tivesse qualquer direito nem tivesse outros deveres a cumprir.
Esquecem que o dia do padre não tem mais horas, que a sua resistência também tem limites e que há normas e leis que ele deve seguir e cumprir. Esquecem, embora o saibam perfeitamente, que o seu pároco tem outras comunidades ao seu cuidado pastoral e que estas comunidades também têm as suas necessidades e os seus direitos.
Como pastor e pai (padre significa pai), o sacerdote deve zelar e cuidar de todos os seus paroquianos. Não pode privilegiar uns em detrimento dos direitos e das necessidades dos outros.
Como pastor comum, deve ajudar os fiéis a viver em comum a sua fé e a abrirem-se aos demais. E na medida em que o próprio sacerdote trabalhar em equipa com outros sacerdotes, mais fácil se tornará empreender a abertura dos fiéis a outras comunidades cristãs.
Que pensaríamos de um pai que, tendo muitos filhos e pouco pão, em vez de o distribuir por todos, o desse apenas a alguns, deixando morrer os outros à fome? Não parece mais justo e mais sensato que, na expectativa de melhores dias, atenda e cuide de todos, dentro do que lhe é possível, para que todos os filhos possam sobreviver? E os filhos, na medida em que se amam como verdadeiros irmãos, não poderão deixar de estar de acordo com a segunda hipótese.
Dentro desta perspectiva deve situar-se a actuação e a atitude do sacerdote e dos fiéis. O pároco, na fidelidade à sua missão, deve gerir o seu tempo em função do que é mais importante e das reais necessidades de todos os seus paroquianos. Por sua vez, os cristãos devem estar dispostos a vencer o seu comodismo e a alterar alguns dos seus hábitos.
Usando ainda a imagem dos pais, vejamos, agora, o problema desde uma outra perspectiva. Continuemos a imaginar uns pais (pai e mãe) que têm vários filhos que já vivem fora de casa.
Na celebração das festas familiares mais assinaladas, como o Natal, a Páscoa, o aniversário dos próprios pais, os filhos não lhes vão exigir que, nesses dias, passem pela casa de todos eles e celebrem assim a respectiva festa com cada um.
Parece mais lógico e razoável que todos se reunam em casa dos pais ou, atendendo às circunstâncias, na casa de um dos filhos. Só assim será uma verdadeira festa familiar. E cada filho deve sentir a necessidade de celebrar a festa não só com os pais, mas também com os irmãos.
Que pensar do filho que se recusa a sair de sua casa para se encontrar com os pais e os irmãos num outro lugar, ainda que se mostre disponível para os acolher em sua casa?
Do mesmo modo, que pensar dos cristãos que não aceitam sair da sua terra e ir ao encontro dos outros cristãos para aprofundar ou celebrar a sua fé, mesmo que não excluam que os outros possam vir à sua comunidade?
Não basta dizer que somos cristãos, que pertencemos à Igreja, que fazemos parte da mesma família de Deus. É indispensável corresponder às exigências inerentes a essa realidade!
c)As unidades pastorais, para poderem efectivamente funcionar como tal, precisam de suporte logístico e de meios de transporte. Com efeito, se se pretende avançar, como parece ser esse o caminho, para a catequese e outras iniciativas conjuntas, são necessárias instalações e meios adequados a esses objectivos.
Há que aproveitar, adaptando se necessário, o que já existe, como algum centro paroquial. Caso contrário, deve investir-se, com a participação e colaboração de todas as comunidades, criando as estruturas necessárias. Este será seguramente um investimento bom e com futuro!
Tendo presente, por um lado, o que é a paróquia, a missão da Igreja que nela se deve concretizar e os diferentes serviços e ministérios que essa missão pressupõe, e, por outro lado, olhando para a realidade das paróquias que temos, concluímos que a maior parte destas paróquias não preenchem os requisitos eclesiais para continuarem a ser consideradas e tratadas como tal.
Na verdade, em muitas das actuais paróquias, não existem alunos nem catequistas para se poder organizar e garantir a catequese de um modo minimamente adequado e eficaz. Ao nível da liturgia, também não garantem os respectivos ministérios. E o mesmo se pode dizer em relação aos serviços da caridade. E ainda a falta de vocações de consagração. Ora, sem vocações não é possível realizar a missão da Igreja!
Tudo isto mostra e prova que estas paróquias não são verdadeiras “comunidades de fé e de ministérios”, ou seja, não são paróquias de verdade.
O que são e como funcionam.
Que resposta dar a esta situação? Como solução possível, fala-se da criação de novas unidades pastorais. E algo já está a ser feito nessa linha.
As unidades pastorais poderão resultar do conjunto de paróquias confiadas a um ou vários sacerdotes. Nalguns casos, poderão ser formadas por todo um arciprestado.
Sem que se altere, para já, o seu estatuto jurídico, estas paróquias, a nível pastoral, passarão a ser olhadas e tratadas como um todo.
Haverá um programa conjunto de acção pastoral e de vida cristã, elaborado na base da realidade das comunidades e dos agentes pastorais disponíveis nas mesmas.
Estes agentes pastorais (sacerdotes, consagrados e leigos) trabalharão, não em função das comunidades a que pertencem ou pelas quais são mais directamente responsáveis, mas em função do todo da unidade pastoral. Deste modo, aproveitar-se-ão melhor as capacidades e os carismas de cada um ao serviço de todos.
A programação, a responsabilidade pela sua execução e a subsequente avaliação caberá a uma equipa pastoral ( ou conselho pastoral). Esta terá como coordenador um sacerdote e integrará representantes dos consagrados, se os houver, e dos leigos das diferentes comunidades.
As unidades pastorais, na medida em que o forem, assegurarão a unidade de critérios pastorais em todas as comunidades cristãs que a compõem. Assim, em todas se seguirão as mesmas normas e práticas no que diz respeito à preparação dos sacramentos, aos padrinhos de baptismo, à celebração das festas, aos emolumentos pelos serviços prestados ...
Como já referimos, estas unidades pastorais, na medida em que são orientadas e animadas por um trabalho em equipa, garantem um melhor aproveitamento dos diferentes agentes pastorais. Cada um, segundo os dons recebidos e as capacidades desenvolvidas, pode dar o melhor de si mesmo em prol das várias comunidades.
Nesta linha, poderão ser distribuídas responsabilidades segundo os diversos sectores da pastoral: catequese de crianças, de jovens e de adultos, liturgia e preparação para os sacramentos, casais e família, serviços sócio-caritativos.
As unidades pastorais não vêm eliminar, sem mais, a vida cristã nas comunidades cristãs mais pequenas. Estas continuarão a ter, ainda que, muitas vezes, a um outro ritmo e com outra intensidade, a celebração dos sacramentos, as suas devoções próprias e algumas acções de formação e outros serviços.
No entanto há muitas coisas que, a nível da tríplice missão da Igreja, podem e devem ser realizadas em comum. As unidades pastorais não só pressupõem uma programação conjunta e unidade de critérios, como também reclamam que haja uma actuação conjunta.
Em concreto:
a) A nível da catequese, como já aludimos, muitas paróquias, por falta de alunos e de catequistas, já não a podem garantir. Afigura-se, pois, como urgente caminhar, conforme os casos e as possibilidades, para a criação de núcleos ou mesmo de um único centro de catequese, que sirvam algumas ou todas as comunidades da unidade pastoral. Deste modo, será mais fácil formar verdadeiros grupos de catequese e providenciar catequistas mais bem preparados para os mesmos.
b) As reuniões e a formação dos catequistas podem ser feitas em conjunto. O mesmo se diga em relação aos coros e equipas litúrgicas, bem como a outros grupos ou movimentos existentes no âmbito da unidade pastoral.
Procedendo assim, não só poupa no trabalho e no tempo quem deve orientar estas acções, como se torna mais atractivo e enriquecedor para os participantes.
c) A preparação para os sacramentos, muito concretamente para o matrimónio (os noivos) e para o baptismo (pais e padrinhos). E aqui valem as mesmas razões da alínea anterior.
d) Também ao nível dos sacramentos pode haver celebrações conjuntas para toda a unidade pastoral. Isso parece ser bastante óbvio quanto ao sacramento da Confirmação e, embora menos, em relação ao Baptismo. Na prática, já está a acontecer, com alguma frequência, a celebração conjunta do sacramento da confirmação para várias paróquias ou mesmo para todo um arciprestado.
e) Também parece lógico e mais fácil organizar os serviços da caridade a nível das unidades pastorais. Diremos mesmo que, de outro modo, não será possível pô-los a funcionar. Isto não impede, bem pelo contrário, que em cada comunidade haja alguém atento e responsável pelo que aí se passa. O conhecimento e a actuação directa são indispensáveis, para que os organismos possam cumprir bem a sua missão.
f) Uma palavra especial sobre a celebração da Eucaristia dominical. Nas presentes circunstâncias, não é possível nem se justifica celebrar a Eucaristia todos os domingos em todas as comunidades, mesmo nas sedes de paróquia.
Não é possível, porque não há sacerdotes suficientes para que tal aconteça. Convém lembrar que os sacerdotes não podem celebrar a Eucaristia quantas vezes querem ou lhe pedem. O máximo, e é com um licença especial, o sacerdote pode celebrar quatro vezes a Eucaristia no Domingo.
Ora, um sacerdote que tem seis ou mais paróquias não pode celebrar em todas todos os domingos.
Não se justifica a celebração da Eucaristia todos os domingos, em comunidades com um reduzido número de pessoas e que facilmente se podem deslocar a outra comunidade, ou em comunidades que estão muito próximas ( por vezes, a menos de 1Km!).
Parece lógico que, em tais situações, haja a celebração rotativa ou alternada nessas comunidades. Não seria justo que fossem sempre as mesmas comunidades a ficar privas da celebração da Eucaristia dominical!
Quem tem fé viva e tem meios (saúde ou transporte) não deixará de se deslocar a outra comunidade para celebrar o Domingo, participando aí na Eucaristia. Quando falta a fé, não há razões que consigam vencer o comodismo e o bairrismo das pessoas!
A Igreja não esquece os idosos, os doentes e todos aqueles que, por algum motivo razoável, não podem deslocar-se. Para esses, no domingo em que não há celebração da Eucaristia, providencia-se, como já acontece largamente, a Celebração da Palavra, ou melhor, a Celebração do Domingo na ausência do presbítero, a que já aludimos antes.
Nesta análise e reflexão, tivemos diante de nós a realidade das paróquias do mundo rural. No entanto, e como dissemos na introdução, as unidades pastorais devem também implementar-se nas áreas urbanas.
Nas cidades, as paróquias estão coladas umas às outras. Aí, as fronteiras geográficas não são visíveis, mas a separação entre as comunidades é, por vezes, muito acentuada.
Apesar da proximidade, cada paróquia, como um mundo fechado e autónomo, procura garantir tudo aos seus fiéis, ao nível do ensino, da liturgia e da caridade, preocupando-se exclusivamente com eles. E, o pior ainda, com disparidade de critérios pastorais.
É evidente e censurável “o desperdício” dos recursos humanos e dos serviços prestados, que poderiam abranger e beneficiar muitas mais pessoas!
Também nas cidades, as unidades pastorais garantirão um melhor aproveitamento dos agentes, a necessária unidade de critérios e, consequentemente, uma maior eficácia.
Vantagens das unidades pastorais
a) Um mesmo programa, a mesma orientação e os mesmos critérios tornam possível uma acção pastoral mais concertada e mais credível.
Quando se seguem critérios diferentes em paróquias vizinhas, os fiéis ficam confusos e na dúvida sobre quem tem ou não tem razão. E há sempre a tentação, sobretudo entre os cristãos menos esclarecidos e comprometidos, de dar a razão aos que “facilitam as coisas”. E isto dificulta a vida e a acção pastoral daqueles que procuram seguir as orientações e aplicar as normas da Igreja.
Se existirem e funcionarem bem as unidades pastorais, estes perigos e dificuldades serão mais facilmente evitadas ou superadas.
b) Com menos agentes pastorais e com menos trabalho, pode-se fazer mais e melhor, atingindo mais pessoas. De facto, trabalhando em conjunto, reduz-se o número de reuniões, de acções de formação e de celebrações, porque não é necessário repetir o mesmo em todas as comunidades.
Além disso, é mais fácil encontrar pessoas disponíveis para os diversos serviços e ministérios. Sendo necessários menos, é possível escolher os melhores e prepará-los mais adequadamente. São precisos menos porque, como já dissemos, eles trabalharão em função do todo da unidade pastoral e não para que tudo continue na mesma em cada comunidade.
c) Ajuda a criar uma nova consciência de pertença à Igreja e promove uma mais alargada e consistente comunhão eclesial.
E uma comunidade mais alargada e mais viva, mais dinâmica e comprometida, que vive em sintonia e sente ao ritmo da Igreja, oferecerá um ambiente mais propício ao desabrochar das vocações de consagração e das vocações laicais.
Dificuldades e exigências
a) Este modelo pastoral implica trabalho em equipa. Os sacerdotes precisam de trabalhar (programar, organizar, executar e avaliar) em comum e em comunhão com os outros sacerdotes e com os leigos, ou seja, com aqueles que constituem a equipa pastoral.
Não parece fácil, mas é necessário e urgente, vencer o individualismo e a convicção errada de que o padre é o único senhor absoluto e absolutamente sozinho das paróquias que lhe estão confiadas.
O trabalho em equipa afigura-se, cada vez mais, como uma exigência do ministério sacerdotal. Este modo de trabalhar é facilitado, quando existe entre os sacerdotes algum tipo de vida em comum.
Ora, não havendo, entre os sacerdotes, grande sensibilidade para este modo de vida, compreende-se que também não seja fácil aquele modo de trabalhar.
É necessário formar e motivar os sacerdotes, de modo a que se opere a sua conversão a estes valores. A fidelidade à missão passa certamente por aqui!
b)Temos que contar também com a resistência de muitos cristãos.
Resistem aqueles cristãos para os quais a paróquia tem sido o único mundo da sua fé, isto é, aqueles que continuam a viver a sua fé exclusivamente no âmbito das suas respectivas comunidades.
O comodismo leva-os a querer tudo nas suas paróquias. O egoísmo torna-os indiferentes às necessidades e aos direitos dos outros. Um certo bairrismo ou mesmo alguma rivalidade entre terras vizinhas leva muitos cristãos a excluir a hipótese de participar em actividades pastorais ou celebrar a fé noutras comunidades.
Importa, pois, ajudar os cristãos a compreender e a integrar-se de um modo positivo e empenhado nas novas unidades pastorais.
Teoricamente, os cristãos sabem que, pela fé e pelo baptismo, pertencem à mesma família de Deus, que é a Igreja. Na prática, impõe-se que tomem consciência disso e assumam as respectivas exigências e consequências.
Não podemos ser cristãos e não viver em comunhão com todos quantos fazem parte desta família de Deus. E esta comunhão deve traduzir-se em actos concretos, sobretudo com aqueles cristãos e aquelas comunidades que se encontram e vivem mais perto de nós.
Mais, ser cristão católico implica ter um coração universal, capaz de acolher todas as pessoas, muito mais os irmãos na fé, vencendo fronteiras e preconceitos.
Não representa qualquer tipo de desprestígio, como alguns erradamente pensam e sentem, deslocar-se a outra comunidade. Mau sinal, isso sim, é não ter fé suficiente para o fazer de boa vontade e com alegria.
Muitos cristãos continuam a olhar para o seu pároco e a fazer-lhe exigências como se este não tivesse qualquer direito nem tivesse outros deveres a cumprir.
Esquecem que o dia do padre não tem mais horas, que a sua resistência também tem limites e que há normas e leis que ele deve seguir e cumprir. Esquecem, embora o saibam perfeitamente, que o seu pároco tem outras comunidades ao seu cuidado pastoral e que estas comunidades também têm as suas necessidades e os seus direitos.
Como pastor e pai (padre significa pai), o sacerdote deve zelar e cuidar de todos os seus paroquianos. Não pode privilegiar uns em detrimento dos direitos e das necessidades dos outros.
Como pastor comum, deve ajudar os fiéis a viver em comum a sua fé e a abrirem-se aos demais. E na medida em que o próprio sacerdote trabalhar em equipa com outros sacerdotes, mais fácil se tornará empreender a abertura dos fiéis a outras comunidades cristãs.
Que pensaríamos de um pai que, tendo muitos filhos e pouco pão, em vez de o distribuir por todos, o desse apenas a alguns, deixando morrer os outros à fome? Não parece mais justo e mais sensato que, na expectativa de melhores dias, atenda e cuide de todos, dentro do que lhe é possível, para que todos os filhos possam sobreviver? E os filhos, na medida em que se amam como verdadeiros irmãos, não poderão deixar de estar de acordo com a segunda hipótese.
Dentro desta perspectiva deve situar-se a actuação e a atitude do sacerdote e dos fiéis. O pároco, na fidelidade à sua missão, deve gerir o seu tempo em função do que é mais importante e das reais necessidades de todos os seus paroquianos. Por sua vez, os cristãos devem estar dispostos a vencer o seu comodismo e a alterar alguns dos seus hábitos.
Usando ainda a imagem dos pais, vejamos, agora, o problema desde uma outra perspectiva. Continuemos a imaginar uns pais (pai e mãe) que têm vários filhos que já vivem fora de casa.
Na celebração das festas familiares mais assinaladas, como o Natal, a Páscoa, o aniversário dos próprios pais, os filhos não lhes vão exigir que, nesses dias, passem pela casa de todos eles e celebrem assim a respectiva festa com cada um.
Parece mais lógico e razoável que todos se reunam em casa dos pais ou, atendendo às circunstâncias, na casa de um dos filhos. Só assim será uma verdadeira festa familiar. E cada filho deve sentir a necessidade de celebrar a festa não só com os pais, mas também com os irmãos.
Que pensar do filho que se recusa a sair de sua casa para se encontrar com os pais e os irmãos num outro lugar, ainda que se mostre disponível para os acolher em sua casa?
Do mesmo modo, que pensar dos cristãos que não aceitam sair da sua terra e ir ao encontro dos outros cristãos para aprofundar ou celebrar a sua fé, mesmo que não excluam que os outros possam vir à sua comunidade?
Não basta dizer que somos cristãos, que pertencemos à Igreja, que fazemos parte da mesma família de Deus. É indispensável corresponder às exigências inerentes a essa realidade!
c)As unidades pastorais, para poderem efectivamente funcionar como tal, precisam de suporte logístico e de meios de transporte. Com efeito, se se pretende avançar, como parece ser esse o caminho, para a catequese e outras iniciativas conjuntas, são necessárias instalações e meios adequados a esses objectivos.
Há que aproveitar, adaptando se necessário, o que já existe, como algum centro paroquial. Caso contrário, deve investir-se, com a participação e colaboração de todas as comunidades, criando as estruturas necessárias. Este será seguramente um investimento bom e com futuro!
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