domingo, junho 29, 2008
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domingo, junho 22, 2008
Presbiteros na Igreja - Identidade do padre
1. As afirmações fundamentais da Igreja
No Concílio Vaticano II, a Igreja define o padre da seguinte maneira: os presbíteros são consagrados á imagem de Cristo para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino (LG 28).
E todo o restante número 28 desta Constituição sobre a Igreja (Lumen Gentium) nos apresenta o padre na sua relação a Cristo à Igreja e, na Igreja - sinal e sacramento de Cristo - aos bispos, ao presbitério (irmãos padres) e ao povo de Deus.
O padre é, portanto, ministro de uma Igreja que é Sacramento de Cristo, Luz dos Povos, e que para se expressar na vida dos homens precisa de ministros que sirvam essa sacramentalidade.
Por isso mesmo, o decreto sobre o Ministério e vida dos sacerdotes (PO) afirmará, a certa altura, que os presbíteros [..] não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores de uma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações (PO 3). A sua vida transcorre, de facto, entre a convivência e a diferença.
2. Uma realidade cristã original
Desta forma o presbiterado (ser padre) surge, de facto, como uma realidade cristã original, interior à própria revelação e centrada sobre Cristo. Podemos então resumir algumas características da identidade e missão do padre segundo o pensamento da Igreja no Vaticano II:
2.1.Ser presbítero é realização, em nós, do Senhor Jesus, Cristo.
Ser presbítero é realização. em, nós do Senhor Jesus, Cristo. O seu ministério, se quisermos o seu sacerdócio, é o fundamento contínuo e continuado do nosso ministério e não apenas um primeiro elo de uma cadeia da qual todos faríamos parte:
- Ser padre é uma realidade que não tem apenas algo a ver com a celebração da Eucaristia, mas que está relacionada com a missão de toda a Igreja;
- A sua acção não se limita ao poder de consagrar o Corpo de Cristo (Eucaristia) mas alarga-se à acção em nome de Cristo, Cabeça da sua Igreja, seu Corpo eclesial.
- Os padres recebem a sua autoridade de Cristo, em Igreja, na criação dos grupos de apóstolos que são enviados em nome do mesmo Cristo; o padre participa na missão apostólica de toda a Igreja: ele conduz uma comunidade nascida da acção da Palavra de Deus
2. 2. Fazer com a nossa vida o que Cristo fez com a sua
Tendo vivido o seu ministério, o seu sacerdócio, não pela imolação de touros e cabritos, mas pela oblação de si mesmo o Ressuscitado dá a todos os cristãos a possibilidade de fazer o mesmo com a sua existência pessoal concreta [(Rom 12, 1-2) (falamos do sacerdócio baptismal)]. Mas é dentro desta possibilidade salvífica que o Ressuscitado dá a todos os cristãos a possibilidade de fazerem com sua vida o que Ele mesmo fez, que surgirá o que chamamos de sacerdócio ministerial (ministério ordenado): na Igreja, alguns, entre muitos, são constituídos para o serviço de’ todos os outros.
Então, longe de se opôr ao sacerdócio dos baptizados, o presbítero permite a vivência dessa dimensão de toda a Igreja. Significa que as suas identidades (a dos baptizados e a dos ministros ordenados ) se reforçam mutuamente com a sua comunhão: a distinção une-as[1]. Estão ordenados um para o outro (LG 10). Então para que todos possam viver a sua dimensão baptismal é necessário que alguns sejam ministros. E a Ordem não significará nunca um degrau mais elevado de santidade em relação ao sacerdócio baptismal, mas apenas um caminho diferente:
- O ministério do padre (presbítero) é um Dom de Cristo à sua Igreja. A ordem é recebida em Igreja por baptizados chamados na fé para um serviço específico na Igreja e como seu sinal;
- Os padres são unidos à missão dos bispos que é a mesma missão que eles receberam dos apóstolos;
- Nesse sentido, porque unidos e enquanto unidos aos bispos, os padres representam o Bispo e a Igreja Universal;
3. Evangelizar, conduzir e santificar
O ministério presbiteral é também o mesmo que Jesus entregou aos Apóstolos com a missão de evangelizar, conduzir e santificar. E isso significa que, na unidade de presbitério em comunhão com o Bispo, sucessor dos Apóstolos, o ministério ordenado se efectiva a maneira do ministério dos apóstolos, ou seja num dinamismo de evangelização e num Dom total de si mesmo. É assim que o sacerdócio não é um emprego, mas é um estado vida caracterizado pela consagração de si ao serviço evangélico dos outros:
- As tarefas que se impõem aos padre são as mesmas que se impõem aos bispos na continuidade da missão apostólica: pregar e anunciar o Evangelho, guiar o povo de Deus (Igreja) e celebrar o culto na Liturgia como sacerdotes o Novo Testamento, isto é, unidos a Cristo.
- É, portanto, toda a vida do padre - nas suas relações com as pessoas - que dá glória a Deus
Afirma a Igreja (PO 3) que os presbíteros não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam aqueles que lhes estão confiados, para que também esses oiçam a voz de Cristo.
No seio de todo um Povo sacerdotal, de toda uma Igreja, os padres, somos ungidos de novo – porque o Senhor nos quer – para sermos mediadores do sacerdócio de Jesus Cristo, cabeça da Igreja. Somos diferentes e devemos aceitar que o somos porque o Senhor nos escolheu e nos colocou no mundo como sua presença particular para construção de toda a Igreja que é o seu Corpo[2].
E é aqui – neste ponto – que existe muito quem confunda a proximidade que o sacerdote, enquanto pastor, deve ter para com os homens e mulheres do seu tempo, na disponibilidade e simplicidade de vida, com o anular dessa diferença, igualando-o a todos os outros homens. É por isso que a frase tantas vezes ouvida que diz que o padre é um homem igual a tantos outros é perigosa e terrivelmente enganadora[3].
[1] Cf. André MANARANCHE, Vouloir et former des prêtres (paris: Fayard, 122.’!) 264.
[2] Cf. D.José da Cruz POLICARPO, Subamos para Jerusalém (Lisboa: Paulistas, 1998)93.
[3] Cf. Ibid.